01 setembro 2019

I - Do inimaginável 

Eu te olho como um delírio na mesa do bar
Pulsa o desejo - o que não nomeio:
Mãos dadas ao acaso da noite sem fim
Me olha a serpente que ainda não emaranhou-se de mim

II - do desejo

Eu te vejo com a clareza dos que esperam algo mais:
Você está exposto e nu diante de mim;
A cidade chama nossos nomes à claridade do dia. 
Todos os pesadelos fazem-se luz no olhar que cruza a verdade

III - do delírio

A cidade é o cenário da coragem nos passos que andam rápido, 
lado a lado.
Te olho com a firmeza da intenção mágica - 
reconheço que quando a noite chega nada fica 
no lugar, 
Teu sexo é direcionamento do meu eu mais denso, 
não existe performance que adentre mais 
do que a própria natureza da nudez - 
a serpente me encara

IV - da neblina

Sufoca a loucura não linear
Os membros se desfazem no delírio da noite - a lua e os cães uivando
Te vejo adormecer no meu sonho mais lúcido, não posso tocar o que adormece
Ponho-me agora
acredite - 
A crer em pássaros
Pude olhar pela primeira vez
Genuinamente
Todos eles em direção ao verão 
(Um sol ameno preenche espaços) - cria na sombra desenhos que decifro - me parece a própria vida.
Tenho a certeza de que a natureza é uma espécie de Divindade que posso tocar
E brincar
Percebo tua presença sutil mas desatadora:
Segundo a segundo vai-me abrindo os nós
Recolocando fragmentos; juntando meus membros cansados e assim, como se houvesse uma criança em mim, volto a nascer.
Tu, serpente
Que entrelaça seu corpo esguio comprido escorregadio emaranhando movimentando sufocando e depois me olhando fundo no olho e com o corpo grudado ao meu me diz adeus